sábado, 25 de julho de 2009

Sapatos bico fino, salto-agulha

Fazenda de Santa Vitória, Setembro de 1972.


A mulher queria sapatos novos para a missa do domingo: bem bonitos, na moda, pretinhos. Sem sapatos, nem almoço nem janta nem amor! Nada! João Inácio de Souza Libério iludiu o estômago pensando na volta. Sapatos Luís XV, os mais bonitos da loja: bico fino, salto-agulha, número 36, verniz preto, luzidio. Nem almoço nem janta nem amor. A moda? Doze flores de sangue no peito, Emerenciada de Sousa Libério enterrou-se com os sapatos Luís XV, bico fino, salto-agulha, número 36, verniz preto, luzidio. Domingo no cárcere. Sem missa.

QUEIROZ, Maria José de. Como me contaram: fábulas historiais. Belo Horizonte: Imprensa/Publicações, 1973. p. 215.

Uvas e lamparinas: um estranho projeto

São João Del Rey, 1898.

Concebeu João Pio um estranho projeto: o de fabricar visões alucinantes para quantos pernoitassem na sua casa. Escolheu na videira um cacho de uvas em botão. Depois, com extrema cautela, introduziu o cacho numa garrafa de azeite. Passado o tempo, o cacho se expandiu, cresceu e amadureceu. Cortou-o então e decantou todo o óleo da garrafa nas lamparinas da casa. Ao acendê-las à noite, as paredes, o forro e o assoalho cobriram-se de ramos e frutos. A videira aposentou-se na chama inquieta e projetou-se por todas as salas e quartos. Vasta e errante folhagem encheu de súbito esplendor a noite de João Pio e dos seus hóspedes deslumbrados.

QUEIROZ, Maria José de. Como me contaram: fábulas historiais. Belo Horizonte: Imprensa/Publicações, 1973. p.115-117.

Bibliografia de MJQ


Ensaio

A poesia de Juana de Ibarbourou. Belo Horizonte: Imprensa da UFMG, 1961. (Prêmio SÍLVIO ROMERO, de Ensaio, da Academia Brasileira de Letras, 1963).

Do indianismo ao indigenismo nas letras hispano-americanas. Belo Horizonte: Imprensa da UFMG, 1962. (Prêmio OTHON LYNCH BEZERRA DE MELLO, de Ensaio, da Academia Mineira de Letras, 1963; Prêmio PANDIÁ CALÓGERAS, de Erudição, da Secretaria do Estado de Minas Gerais, 1963).

Cesar Vallejo: ser e existência. Coimbra: Atlântida, 1971. 210p.

Presença da literatura hispano-americana. Belo Horizonte: Imprensa da UFMG, 1971.

A literatura encarcerada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

A comida e a cozinha: iniciação à arte de comer. Rio de Janeiro: Forense, 1988.

A literatura alucinada: do êxtase das drogas à vertigem da loucura. Rio de Janeiro: Atheneu Cultura, 1990.

A América: a nossa e as outras. 500 anos de ficção e realidade (1492-1992). Rio de Janeiro: Agir, 1992.

A literatura e o gozo impuro da comida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994.

Refrações no tempo: tempo histórico, tempo literário. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.

A América sem nome. Rio de Janeiro: Agir, 1997.

Os males da ausência ou A literatura do exílio. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. (Prêmio JABUTI, de Ensaio, Câmara Brasileira do Livro, 1999).

Em nome da pobreza. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.

A literatura encarcerada. 2. ed. Belo Horizonte: Caravana, 2019.

Conto

Como me contaram... fábulas historiais. Belo Horizonte: Imprensa / Publicações, 1973.

Amor cruel, amor vingador. Rio de Janeiro: Record, 1996.

Amor cruel, amor vingador. 2. ed. Belo Horizonte: Caravana, 2021.

Literatura infantojuvenil

Operação Strangelov: a ecologia e o domínio do mundo. Belo Horizonte: Vigília, 1987.

O chapéu encantado. Belo Horizonte: Lê, 1992.

O chapéu encantado. 2. ed. Belo Horizonte: Ave, 2022.

Memória

O livro de minha mãe. Rio de Janeiro: Topbooks, 2014.

Poesia

Exercício de levitação. Coimbra: Atlântida, 1971.

Exercício de gravitação. Coimbra: Atlântida, 1972.

Exercício de fiandeira. Coimbra: Coimbra, 1974.

Resgate do real, amor e morte. Coimbra: Coimbra, 1978.

Para que serve um arco-íris? Belo Horizonte: Imprensa da UFMG, 1982.

Desde longe. Rio de Janeiro. Gramma, 2016.

Desde longe. 2. ed. Belo Horizonte: Caravana, 2020.

Romance

Ano novo, vida nova. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. (Prêmio LUÍSA CLÁUDIO DE SOUSA, de Romance, PEN Clube do Brasil, 1979).

Invenção a duas vozes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Homem de sete partidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

Joaquina, filha do Tiradentes. São Paulo: Marco Zero, 1987.

Sobre os rios que vão. Rio de Janeiro: Atheneu Cultura, 1990. 

Joaquina, filha do Tiradentes. 2. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1991.

Homem de sete partidas. 2. ed. Rio de Janeiro: Record. 1999.

Joaquina, filha do Tiradentes. 3. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999. (Versão Integral com posfácio da autora).

Joaquina, filha do Tiradentes. 3. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999. (Versão Integral com posfácio da autora, e-book).

Vladslav Ostrov: príncipe do Juruena. Rio de Janeiro: Record, 1999.

Terra incógnita. Belo Horizonte: Caravana, 2019.

Uma literatura contra o esgotamento
























“Não há assuntos esgotados, há homens esgotados diante de certos assuntos. A ideia de que chegamos a um tempo de exaustão é falsa”.

Maria José de Queiroz