sábado, 30 de novembro de 2013

Pentecostes

Tempo de amor
- terceira margem do rio,
tumba e cal de memórias
ancorados -
denuncio.
À doce ilusão
de afeto breve
renuncio.
Em alegre Pentecostes
de liberdade recuperada
anuncio:
os olhos tenho vendados
a Eros e seu prestígio.

Núncio nuncial
incipial
de alma liberada:
a consciência esclarece e ilumina.

Paris, inverno de 1970.

QUEIROZ, Maria José de. Exercício de gravitação. Coimbra: Atlântida, 1972. p. 66.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Os castigos

Os castigos propiciaram a Victor Hugo não apenas uma purga, uma catarse; ofereceram-lhe a ocasião de falar no seu próprio nome, sem censura, sem falso recato, sem modéstia. Isento de compromissos políticos, imune à pompa acadêmica, alheio à notoriedade pública e à nomeada pessoal, desvinculado da crença religiosa e da fidelidade aos laços conjugais, indiferente à fama, embora atento à glória, a poesia desata-lhe a língua, ratificando o sursis de todos os gravames a que a sociedade, a República, a igreja, a cidadania e as letras o sujeitavam. Estava livre. De direito e de fato. Para berrar, vociferar e fazer ouvir, nos quatro cantos da terra, o seu clamor oceânico. Não há quem o detenha nem quem o faça calar. Não há nobreza de gênero que o impeça de versar esse ou aquele tema. Invade a literatura, banqueteia-se com todos os gêneros, passa como um vendaval pelo dicionário e depois de inquietar os donos do poder põe em alarme os donos do conhecimento. Não, não era um louco que pensava que fosse Victor Hugo. Aos olhos de Juliette era Deus. E era mesmo: era a poiésis encarnada.

QUEIROZ, Maria José de. Os males da ausência ou A literatura do exílio. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. p. 262-263.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Projetos

Doutorado:

1) História, memória e cotidiano nas narrativas de Maria José de Queiroz - Resumo: Este projeto objetiva estudar as relações entre a História, a Memória e o cotidiano na obra de Maria José de Queiroz, ancoradas nas relações entre historiografia e literatura na construção dos romances contos e novelas, além de procurar as fronteiras que medeiam a História oficial e as histórias ficcionais. Nesse contexto, pretende-se ainda esclarecer de que forma o texto híbrido que daí resulta constitui-se, também, em uma forma de construção do passado e de sua atualização no presente. Doutoranda: Maria Lúcia Barbosa - Orientadora: Profa. Dra. Constância Duarte - Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG - Período: 2014-2018.

Mestrado:

1) As cidades e os mortos: As cidades invisíveis, de Italo Calvino, e Como me contaram: fábulas historiais, de Maria José de Queiroz - Resumo: Este projeto objetiva analisar o caráter duplo do espaço urbano tanto em As cidades invisíveis, de Calvino, quanto em Como me contaram, de Queiroz, tendo em vista a relação entre metrópole e necrópole em ambos os textos. Mestranda: Maria Silvia Duarte Guimarães - Orientadora: Profa. Dra. Lyslei Nascimento - Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG. Período: 2016-2019.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

13 de julho de 1791



QUEIROZ, Maria José de. 13 de julho de 1789. In: ______. Como me contaram: fábulas historiais. Belo Horizonte: Imprensa/Publicações, 1973. p. 79-81.

sábado, 2 de novembro de 2013

É o homem livre que fala do encarcerado

Van Gogh declarava que o pintor não pinta o que vê mas o que sente. Manifestadamente, não se aplicará também a quem escreve o mesmo aforismo? A tomada de consciência a que nos obrigamos, introduzidos no conhecimento de uma realidade sentida, aspira a instruir-nos sobre uma realidade vista. Acautelemo-nos no entanto: não nos esqueçamos do que a prisão significa na sucessão dos episódios vividos pelo prisioneiro. Na projeção do presente sobre o passado (porque geralmente, é o homem livre que fala do encarcerado), cumpre atentar na convergência das suas visões do mundo, presas a dois tempos, que se integram na reflexão histórica em que o autor força o leitor a situar-se na sua história - ida e vivida.


QUEIROZ, Maria José de. A literatura encarcerada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. p. 145.