sábado, 14 de janeiro de 2017

Qual flor sem haste

Vicente Huidobro
Dessarte, a literatura hispano-americana, qual flor sem haste, enfeita as jarras brasileiras, alimenta conversas de sobremesa, de curta duração. Ninguém se interessará em descobrir, no passado, as razões do prestígio, entre nós, de um Rubén Darío, de um Rodó ou de um Amado Nervo. Terminada a atual coqueluche, ninguém perguntará, à maneira de Unamuno, "Y antes?", nem tentará averiguar se depois de Gabriela Mistral, Miguel Ángel Asturias, Pablo Neruda, Gabriel García Márquez e Octavio Paz seremos ainda dignos de outro Nobel de Literatura. Continuaremos todos a ignorar que o teatro moderno nasce com La verdad sospechosa, de Juan Ruiz de Alarcón, que José-María de Heredia era cubano; Laforgue, Lautréamont e Supervielle, uruguaios; William E. Hudson, argentino; e que os caligramas do chileno Huidobro são anteriores aos de Apollinaire. Enquanto isso, César Vallejo mastigará grama e silêncio em Montparnasse e Enrique Banchs continuará desconhecido. Nesta América infeliz e miserável, à qual, por isso mesmo, a Academia sueca distinguiu com os seus prêmios Asturias e Neruda, talvez se leiam, algum tempo ainda, El Señor Presidente e o Canto general. Depois, tudo será naufrágio... Como está no verso do grande poeta chileno.

QUEIROZ, Maria José de. A América sem nome. Rio de Janeiro: Agir, 1997. p. 141.