sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

To die in Rio…


    
Meus caros:

Vocês se lembram, de To die in Madrid?

Pois é. Trata-se do documentário francês, Mourir à Madrid (1963) dirigido por Frédéric Rossif: elenco de prestígio, converteu-se em cult — o mais real e dramático enfoque da Guerra Civil Espanhola — guerra que dividiria o Ocidente e enlutaria centenas de famílias.1
Entre seus heróis, André Malraux, escritor francês, autor de A condição humana (La condition humaine, 1933), sobreviveria aos raids aéreos e aos combates no front: não só lutou e sobreviveu em Madri, como participou da resistência a Franco, morrendo, de morte morrida, em 1976.
De seu engajamento politico dariam testemunho o romance A esperança (L'Espoir, 1937) e Serra de Teruel (Sierra de Teruel,1945). No desempenho das funções de Ministro da Cultura (1958/1969, gov. De Gaulle), realizaria o inadmissível: o resgate, para o presente, da passada grandeza da capital: fez raspar e limpar as fachadas dos grandes monumentos históricos. Paris se réveille
Fundou, ainda, as Casas de Cultura (Maisons de la culture), uma para cada cidade, a fim de permitir o acesso a leitores, estudiosos, artistas e pessoas humildes, de cada município, às grandes obras do espírito. Ao morrer de sua morte, legava ao país, além de vasta bibliografia, obra pública irretocável.
Voltemos à nossa própria casa. 
Se o Rio é o que canta o coral ianque, posso dizer-lhes, mineira que sou, estar disposta a morrer no Rio. 
Primeiro, porque esse refrão é pra inglês ouvir. 
Segundo, porque o Rio nunca deixará de ser a mais bela capital do Novo Continente. E disputa, com Paris, tal excelência. Exibe, a olhos de ver, a beleza natural de sua baía e suas montanhas, das alturas dos Dois irmãos, ao alcance da vista, ao Corcovado e ao Cristo. Dali, em glissado vertiginoso, o olhar abarca o areal branco de Copacabana, Ipanema, Leblon e Barra. Se o belo é a perfeição, os portugueses o descobriram para o mundo e para nós, seus herdeiros. 
Terceiro, não há, no país, população mais cordial, alegre e solidária que a carioca. E, tenho certeza, não só criou como pratica o "jeitinho brasileiro" de ser (que os mineiros me perdoem).
E há mais: conceberam, e realizam, cantando e dançando, a mais bela festa do mundo — hino multifário, como a banda, coral de celebração da Diferença,  do Plural de todos e da Euforia de viver. 
Saibam que não me serve de SOS o refrão made nowhere desse blablalá, nem, tampouco, o aviso das placas que se leem nas passagens de nível: OLHE  PARE  SIGA.
Depois de ver e admirar nossa baía,  extasiado à contemplação da  Guanabara (e registrou-o em livro), Stefan Zweig optaria por  morrer, com sua companheira, longe do Rio: parou, olhou, viu e seguiu para Petrópolis, fugindo de Hitler e do Nazismo...
Também fiz minha opção: não sigo senão a Paris, cidade-luz , por sua beleza arquitetônica e seu patrimônio histórico. Mas estarei de volta à nossa cidade maravilhosa. Sempre. 
Morrer? Quem há-de salvar-se? Se morreremos todos… Quem escolhe a data? Onde?
Os heróis da guerra civil espanhola e da Força Expedicionária Brasileira, composta de voluntários, os nossos “pracinhas”, responderam, ombro a ombro, em forma, à chamada geral. 
A Nossa América pôs-se em marcha, arma em punho, no combate contra o Eixo, em Monte Cassino e Monte  Castelo, nas Batalhas de Cassino e Castello, em defesa da Europa. 
Descansam, agora, em paz: em Pistóia. 
É isso aí.
Maria José de Queiroz
Paris, 23 de dezembro de 2013.
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Frédéric Rossif (1922, Montenegro, antiga Iugoslávia /1990, Paris). Diretor de filmes e documentários para a tela do cinema e televisão, colaborou, frequentemente, com o compositor Maurice Jarre. Depois de perder toda a família durante a Segunda Grande Guerra, emigra à Itália, estuda em Roma e engaja-se, em 1944, na Legião Estrangeira. Já em Paris, em 1945, passa a trabalhar no Club Saint-Germain e dá início à carreira  no cinema. Atua na Cinémathèque Française, organiza o festival de Vanguarda de Antibes (1949/50) e é contratado, em 1952, pela ORTF. Seu filme Mourir à Madrid (script a duas mãos, com a escritora Madeleine Chapsal) recebe o Prêmio Jean Vigo de 1963, tendo sido indicado, pela Academia, para o Prêmio destinado ao Documentário do ano. No cast  de Mourir à Madrid, incluem-se, entre outros, Suzanne Flon, Pierre Vaneck, Jean Vilar, John Gieguld etc. É de 1970, seu único filme não documentário, Aussi loin que l’amour, que teria Salvador Dalí entre seus atores.