segunda-feira, 20 de maio de 2013

Amor eterno

Toda emoção e sentimento relacionados com a vida transmitem ao indivíduo a mesma essência limitativa. Há quem faça promessas de devotamento eterno ao ser amado. Há quem creia no "per omnia saecula saeculorum" de humana intenção. Apesar de tudo, sempre haverá a morte a estabelecer fronteira. Chegados, contudo, ao seu domínio, não nos ocupa nem preocupa a ideia da limitação. Semeia-se no seu campo a eternidade. Transferindo para além da vida o compromisso amoroso, tem o poeta a certeza de garantir-lhe a perenidade. O salto confere ao sentimento humano, imanente e efêmero, a virtude da transcendência. Os chamados amores eternos só logram essencialidade se marcados pela morte.

QUEIROZ, Maria José de. César Vallejo: ser e existência. Atlântida: Coimbra, 1971. p. 111.