QUEIROZ, Maria José de. As coisas têm alma. In: ______. Para que serve um arco-íris? Belo Horizonte: Imprensa da UFMG, 1982. p. 17-18.
terça-feira, 20 de outubro de 2020
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
Victor Hugo, um coração maior que o mundo
"Victor
Hugo, que já inspirou tantos escritores brasileiros, tratou do exílio
em todas as suas formas. O leitor ficará apaixonado e irá acompanhá-lo
mundo afora. Se ama a beleza, nada há sobre a face da terra que se lhe
assemelhe. É um coração maior que o mundo, como o de Tomás Antonio
Gonzaga, quando falava à sua Marília." (Maria José de Queiroz, 2020)
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
O gozo impuro da comida segundo Maria José de Queiroz
O
gozo impuro da comida segundo Maria José de Queiroz
Lyslei Nascimento
UFMG
Os
animais pastam, o homem come; mas apenas o homem de espírito sabe comer. E quem sabe comer é gastrônomo. A
dignidade da gastronomia apoia-se não só numa forte estrutura econômica, que
lhe confere peso, medida e cifra, como se exalta, igualmente, no refinamento da
mais imediata das funções fisiológicas. Assim, a alegria de sentar-se à mesa
para responder a uma das leis da sobrevivência deve antecipar-se na leitura do
cardápio, expandir-se na discussão das iguarias, concretizar-se na degustação e
prolongar-se em gesto e palavra de louvor à sua forma, feitio, cor e
apresentação. O conviva celebra no silencioso e recolhido ato de saborear a
comida o talento do artista criador. Pouco importa o caráter efêmero da obra
criada: a receita é partitura que se repete e volta a deliciar indefinidamente.
Maria José de Queiroz
Desde a Bíblia, a comida, a
sedução e o pecado encontram-se entrelaçados. Há, na insubordinação de Eva, algo
de tão lascivo que comer do fruto proibido tornou-se, misticamente, muito mais
do que abocanhar uma vulgarmente apelidada maçã. Há, nesse encontro entre a
mulher, a serpente, o fruto proibido e o homem, perigo e transgressão. Afinal,
com a desobediência, deixamos de ser meros bonecos de argila e nos tornamos
humanos, tendo que, com sabedoria, humor e arte, vencer nossa finitude, nossa
mortalidade.
Na história de Branca de Neve, a perigosa
maçã se intromete no felizes para sempre. Em vez da serpente, uma bruxa com o
suculento e vermelho fruto. Em vez do tolo Adão, um príncipe para salvar Branca.
Como é possível perceber, nessas histórias da carochinha, o homem é promovido
de patente. A mulher de agente (do mal, é bem verdade) é rebaixada à vítima
(apesar de seu duplo ser a Bruxa). Mas a maçã está lá. Linda e suculenta.
Vermelha e terrível.
Se é possível acompanhar uma
história da alimentação e da transgressão da Bíblia até os contos de fada – em histórias que
vão de Abraão, que prepara uma ceia para os anjos que lhe anunciam o filho tão
esperado; a Esaú e Jacó, que negociam a primogenitura com um prato de sopa de
lentilhas; até o milagre da multiplicação dos pães e a nefasta última ceia,
quando Judas recebe das mãos de Jesus um bocado de pão mergulhado em vinho – na
literatura, na arte, a relação entre a comida e o gozo impuro da comida é ritual
e festa.
Talvez Giuseppe Arcimboldo (1226–1593)
possa iluminar, nosso olhar sobre a obra de Maria José de Queiroz. Embora o
caráter sensual e, porque não dizer, impuro, esteja também presente no trabalho
do grande pintor maneirista, é a multiplicidade que nos guiará. Como todos
sabem, a obra do artista
italiano inclui as séries “Os quatro elementos” e "As quatro
estações". Nessas pinturas, ele usou, pela primeira vez, imagens da
natureza, tais como frutas, verduras e flores, para compor fisionomias humanas.
A natureza compósita das figuras como estratégia de
construção dirige o nosso olhar para o ensaio de Queiroz. O homem, a partir da
perspectiva desses dois artista, um da imagem, outro da palavra, não é só o que
come, mas, também, o que ele faz. Daí as pinturas de profissões com a mesma técnica
de composição: o jardineiro, o bibliotecário e o cozinheiro.
Walter Benjamin afirma que se houvesse uma musa do romance
seu emblema seria o cozinheiro. Ela eleva o mundo de seu estado bruto a fim de
criar algo apto para comer, para realçar a plenitude de seu sabor. Pode-se até
ler o jornal (ou, mais contemporaneamente, entrar nas redes sociais) enquanto
se come, mas será possível, comer e ler um romance? Para o filósofo, essas
seriam duas ações conflitantes, porque os livros não devem ser lidos da mesma
maneira.
Romances existem para serem
devorados, assegura o filósofo. Ler um romance é, assim, um ato voluptuoso, de
absorção, não um ato de empatia. Para ele, o leitor não deve se imaginar no
lugar dos personagens, mas assimilar o que acontece com eles. Desse modo, o
relato vivido das experiências seria uma apetitosa guarnição em que um prato
nutritivo chega à mesa. Haveria, assim, uma dieta crua de experiência – assim
como há uma dieta crua para o estômago – a saber: as próprias experiências. A
arte do romance, como as artes culinárias, começa além dos ingredientes crus.
Quantas substâncias nutritivas existem e que não são apetitosas em estado
bruto! Quantas experiências são aconselháveis para ler, mas não para ter!
Alguns leitores são atingidos com tanta força que teriam sido devastados se
tivessem sofrido as experiências diretamente! Assim, é preciso plantar, colher,
lavar, cortar, temperar, cozer. Desse modo, uma verdadeira alquimia transforma
o cru em cozido.
Voltemos às
imagens compósitas de Arcimboldo e à multiplicidade para que possamos voltar à
comida segundo Maria José de Queiroz. Para Italo Calvino, em suas propostas
para o milênio, trata-se de multiplicidade a noção de obra como enciclopédia (ou
seja, um conjunto de saberes que se articulam como um método de conhecimento, uma
rede de conexões entre fatos, pessoas e coisas do mundo. Sendo assim, um rolo, uma embrulhada, um aranzel
que é estruturado sem se perder ou atenuar sua complexidade inextrincável;
também a presença simultânea de elementos os mais heterogêneos que concorrem
para a determinação de um evento; cada objeto mínimo visto como o centro de uma rede de relações de que o
escritor não consegue se esquivar, multiplicando os detalhes a ponto de suas
descrições e divagações se tornarem infinitas; a leitura ou a observação de um trabalho dessa natureza
constitui um modo de ler, de onde, de qualquer ponto que parta, o
discurso se alarga de modo a compreender horizontes sempre mais vastos, e se
pudesse desenvolver-se em todas as direções acabaria por abraçar o universo
inteiro.
Nos mais de 30 livros da escritora
é possível vislumbrar uma poética enciclopedista que a faz afeita aos grandes
livros, aos temas universais, que terá a comida como um deles. Antes de chegar
ao tema central desta exposição, a fim de demostrar o caráter enciclopédico da
escritora, cito alguns títulos: A
literatura encarcerada, publicado em 1981, e, em sua segunda edição (revista
e atualizada), em 2019, pela Caravana Editorial, de Belo Horizonte; A literatura alucinada: do êxtase das
drogas à vertigem da loucura, de 1990; A
literatura e o gozo impuro da comida, publicado em 1994; A literatura do exílio, ou Os males da
ausência, de 1998.
O ensaio A literatura e o gozo impuro da comida foi precedido por A cozinha e a comida: iniciação à arte
de comer, publicado em 1988. Nesses dois livros, Maria José de
Queiroz revela, na cozinha delirante da literatura, e sob os olhares ávidos do
leitor, a mesa e suas relações com a arte, desde Homero até Pedro Nava,
passando por Eça de Queirós e Machado de Assis. Do sumário à tábua de matérias,
a comida é pasto para a erudição e o deleite do leitor. Como não é possível
deixar de perceber, delinear a mesa a partir da literatura amplia o projeto de
Eduardo Frieiro, enciclopedista precursor, que em Feijão, angu e couve, de 1982,
realiza um precioso ensaio sobre a comida dos mineiros. Ao
compor esse nosso cardápio, Frieiro lança as bases para a pesquisa que a
discípula, posteriormente, desenvolve e à qual dá dimensões para além das
montanhas de Minas.
A despeito de uma aparente
singeleza (de uma singeleza sensualista, nos afirma o professor Luiz Otávio Barreto Leite), Maria José
de Queiroz conjuga a pesquisa histórica (tão evidente em A literatura encarcerada) com a memória dos sentidos, tão vívidos
nos cheiros, nas cores e nos sabores como em seu romance Joaquina, filha do Tiradentes. Em A literatura e o gozo impuro da comida, a ensaísta produziu uma “verdadeira
reforma de compreensão dos prazeres da mesa enquanto objeto de investigação”. O
estudioso chama a atenção para o fato de que somente livres do preconceito que
atribui ao paladar e ao olfato condição inferior à visão e à audição é que
estaremos aptos a participar do banquete da civilização. É assim que, a partir
dos cinco sentidos, Queiroz promove uma reavaliação das percepções gustativa e
olfativa, muito antes da avalanche de “shows de realidade”, das batalhas de
bolos, incluindo os bolos de copo, de churrascos, de doces; dos livros de
dietas sem glúten, com glúten; com lactose, sem lactose; com açúcar e sem
açúcar; também os livros sobre alimentos macrobióticos, energéticos, detox,
termogênicos, dietéticos, lights, gourmets, orgânicos, veganos,
hidropônicos e funcionais... Essa assombrosa lista quase borgiana parece não ter
fim.
Ao estudar a
comida na literatura e o papel da gastronomia na arte da palavra, Queiroz elabora
um rico painel – desde a Antiguidade clássica até o século 20 – buscando na
história, na antropologia, na filosofia, na literatura e em outros tantos saberes
a comida, a cozinha, a culinária, o apetite e o prazer de comer, a gula e a
fome e todo um imaginário que circunscreve a alimentação. O olhar de
enciclopedista da escritora – que tudo quer ver e devorar – é metódico e
múltiplo.
Ao reunir textos e
escritores da tradição literária a fim de explorar o tema da comida, Queiroz instaura
um ponto de origem que é apresentado segundo uma lógica peculiar: ela organiza
e classifica os temas por ordenação cronológica, histórica ou geográfica. Essa
estratégia é pedagógica, busca, sobretudo, o ensino, mas exibe, também, o
método de quem vê a história literária como um fenômeno vivo, em que uma
sucessão de acontecimentos, de temas e de ideias se interrelacionam.
Por isso, sua abordagem sobre a Antiguidade
na Teogonia, de Hesíodo, ou seja, no
mito de Prometeu, que rouba o fogo dos deuses e dá aos homens. Pergunta a
ensaísta: “Não foi o fogo que condicionou o tipo de regime destinado aos
mortais?”. O castigo infligido a Prometeu, ficar amarrado a uma rocha por toda
a eternidade enquanto uma águia devora-lhe o fígado, que cresce novamente no
dia seguinte, remete “a fome dos mortais, jamais saciada, que renasce ao correr
dos dias e das horas. Num eterno recomeçar, o estômago não lhe permite esquecer
o ônus da sua condição”.
Para Hesíodo, a
necessidade biológica está associada, de forma negativa, à ideia de maldição: o
homem “é escravo do ventre”, “do ventre, do sono e da libertinagem”, completa Queiroz,
citando Sócrates. A voracidade, a intemperança e a fome fazem com que a comida
(e o ato de comer) se associe menos ao prazer do que a uma necessidade que deva
ser domada ou sentida como algo incômodo.
Nos grandes poemas
homéricos, Ilíada e Odisseia, a comida, ou o ventre,
metonimicamente, aparece ligada a uma série de situações que cumpre finalidades
especificas em uma coletividade, ora visto de modo negativo (o “ventre
maldito”, o “ventre odioso”, o “ventre funesto”, “que traz tantos males”,
“tantas aflições traz aos mortais”), ora desempenhando funções restauradoras do
corpo e do espírito. Os banquetes festivos e fúnebres, as ceias, as reuniões em
torno da mesa, a comida na cultura grega, em geral, é, para a ensaísta, ligada
ainda à hospitalidade, nos quais se selavam, sobretudo, os compromissos
sociais.
A mesa exerceria,
assim, uma função civilizadora que, como afirma Queiroz, “alcança no simpósio
de Platão a sua mais alta relevância”. A ensaísta associa a comida, agora, a
sua quase e inevitável aproximação com o apetite sexual. Fome e amor se complementariam,
e ela vê, no simpósio, nessa forma de encontro “inventada” por Platão, em O banquete, a transformação do vinculo
mesquinho que Ulisses via nas necessidades do estômago com o novo modo como a
comida, a culinária e os rituais de convivência são convertidos, sublimados, em
algo que, não só remete aos prazeres do ventre quanto aos do espirito. Os
textos analisados gravitam em torno de um subtema, que completa uma ideia cujo
fim volta ao ponto de origem.
No posfácio, a
estudiosa explicita o seu método como “um encadeamento natural que não nos
permite, por exemplo, ler Pedro Nava antes de Rabelais ou Fielding antes de
Cervantes. Há um fio condutor, mais do que uma ordem lógica, que une todos
esses escritores: é a sua maneira de sentir. De sentir o mundo. De cheirá-lo.
De sorver a vida, de devorá-la. Ou de oferecer-se como alimento e deixar-se
devorar”.
Para além do saber
que está inscrito no texto de Queiroz, a ensaísta cria um modo de conceber
essas relações, não só dando uma amostragem do tema gastronômico na história
literária, e o tratamento dado a esse tema nas grandes obras da literatura, mas
rastreia essas relações (desde um suposto inicio), e faz leitor observar que há
uma espécie de tradição do assunto e o tema da comida e suas diversas
manifestações se apresentam como um topos
literário.
Da Roma antiga,
Queiroz enfoca “O banquete de Trimalquião”, fragmento do inclassificável Satíricon, de Petrônio. Nesse estudo,
ela aborda as descrições
detalhadas do jantar luxuoso, extravagante e decadente oferecido pelo que se
poderia chamar um "novo-rico" romano. Segundo a pesquisadora, nasce,
com esse texto, um gênero “explorado, com êxito, no teatro e no cinema”, como
nos filmes de Luis Buñuel e Peter Greenaway”.
Nesse itinerário, Queiroz
não se furta de analisar, também, uma espécie de tratado dos excessos
gastronômicos que é Gargântua e
Pantagruel (1532), de François Rabelais. A comida, nesse texto, reflete a
infinita gula desses dois gigantes, que bebem lagos de vinho e
comem rebanhos de gado. Gargântua, pai de
Pantagruel, nasce em um extravagante banquete, sua mãe Gargamelle se empanturra
de tripas e no meio da confusão dá à luz a Gargântua, que nasce gritando:
“Beber! Beber! Beber!”. A mordaz sátira de Rabelais é descrita e analisada por
Queiroz que busca acompanhar as aventuras dos dois gigantes, vendo, nos
excessos alimentares, a paixão criadora, gulosa e fecunda.
Já no périplo de Lazarrilo de Tormes, de 1554, “a fome
passa a ser o seu tema de estudo. Segundo a autora, “não se cuida, nesse enredo
de inspiração picaresca, do requinte da mesa nem da qualidade das iguarias aí
servidas. O que importa ao pobre Lázaro, guia de cego, é matar a fome.” De
Quevedo, a ensaísta trata de A vida de
Buscón. Também nele, a fome aparece, mas também o deleite para com a
comida. O personagem fecha os olhos para melhor degustar o saboroso vinho. Um jarro
é chamado de “doce e amargo jarro”. Ao contemplar pães, guardados em uma arca,
chama-a de “aquela cara de Deus”, e como não podia comer os pães, enchia a arca
de “mil beijos”. Desse modo, ele beija, amorosamente, o que não pode comer
apontando, com essa atitude, a ato amoroso, desejo, encantamento.
Do século 19, Maria
José de Queiroz estuda a gastronomia francesa. Para a ensaísta: “A obra de
Balzac virá à luz. Encruzilhada gastronômica das letras, a Comédia humana abre diante do leitor o copioso cardápio francês.” Parte
desse imenso roteiro gastronômico vai sendo deliciosamente descrito e analisado
de forma a exibir ao leitor uma verdadeira enciclopédia da comida francesa a
partir de Balzac.
Na Comédia, de Eugenie Grandet, Queiroz investiga um pecado capital: a avareza. O
sovina Grandet “estendia aos gestos e às palavras a mesma parcimônia com que
dirigia a economia doméstica e os negócios. Resolvia, com quatro frases curtas,
todas as dificuldades da vida e do comércio: “não sei”, “não posso”, “não
quero”, “veremos”. Nessa sovinice material e linguística, Queiroz observa como
ela se desdobra na rebeldia da sobrinha Eugenie (e de seu amor por Charles) e
da criada Nanon. O açúcar roubado da despensa do velho Grandet, por Eugenie,
para adoçar o café de Charles, é, sugestivamente, aproximado à paixão pelo
primo.
Na parte dedicada
ao século 19 no Brasil e em Portugal, a mesa portuguesa ganha merecido espaço.
Nos romances O crime do Padre Amaro, O primo Basílio, Os Maias, A ilustre casa de Ramires, As cidades e as serras, de Eça de
Queirós, a ensaísta encontra o requinte do tema gastronômico no escritor
português. Afinal, citando o crítico José Quitério: “nem mesmo [em] Camilo ou
Aquilino – são tão constantes, copiosas, quase avassaladoras as alusões, referências,
descrições e sequências de índole gastronômica”.
O século 19, no
Brasil, contrariando opiniões de críticos que diziam que entre nossos
escritores havia ”uma indiferença pelos prazeres da mesa”, uma “ausência do
‘senso gastronômico’”, que nossos escritores “não se detiveram muito em
comezainas”, Queiroz com fartos exemplos retirados de Machado de Assis, Aluísio
Azevedo, Raul Pompeia, busca corrigir essa ideia, mostrando que há na
literatura brasileira um “sensualismo alimentar”, não, como “uma tradição gastronômica,
à francesa”, mas que revelam que comida e linguagem se associam de forma contundente.
Machado de Assis,
modelo de temperança e sobriedade, é lido e descrito a partir de uma sucessão
de exemplos que trazem, ao contrário de seu comedimento, uma volúpia e uma
grande delícia. Afinal, ao dedicar as memórias póstumas ao verme que lhe come
as carnes, o personagem Brás Cubas dá o tom do livro: o destino do homem é
comer e ser comido. Desde “o primeiro encontro de Brás Cubas com a espanhola,
as metáforas alimentares condicionam-se às pulsões da libido”, escreve Queiroz.
As palavras e o apetite também se juntam, em Machado, deixando vislumbrar um
alto teor de sugestão carnal. Personagens que apalpam com olhos, ouvem, cheiram
e gostam. “O requinte dos “temperos”, a “ternura” da carne, o “rebuscado” das
formas, “o comer virgulado de palavrinhas doces”, “palavras de mel”, “línguas
de rouxinol”, “peito de perdiz à milanesa”, “faisão assado”, “pastelinhos”,
“compotas de marmelo”.
O libidinoso
vocabulário de Machado é, assim, explorado de forma surpreendente, como uma
lista de deliciosos deleites. Ela refere-se, nesse contexto, ao narrador Brás
Cubas: “corria um burburinho alegre, um palavrear de estômago satisfeito; os
olhos moles e úmidos, ou vivos e cálidos, espreguiçavam-se ou saltitavam de uma
ponta à outra da mesa, atulhada de doces e frutas, aqui o ananás em fatias, ali
o melão em talhadas, as compoteiras de cristal deixando ver o doce de coco,
finamente ralado, amarelo como uma gema, – ou então o melado escuro e grosso,
não longe do queijo e do cará”.
Do conto “As bodas de Luís Duarte”, ela ressalta que “o
menino do conto, O Tonico, se antecipa às visitas e quer gelatina. Pra evitar
uma “cena grave”, a mãe atende, contrariada o seu pedido. Satisfeito o
capricho, Antonico come sem vontade: “levava uma colherada à boca, demorava-se
tempo infinito rolando o conteúdo da colher entre a língua e o paladar, ao
passo que a colher, empurrada por um lado formava na bochecha direita uma
pequena elevação. Ao mesmo tempo agitava o pequeno as pernas de maneira que
batia alternadamente na cadeira e na mesa. O mole dos olhos e o mole da
gelatina, o cristal líquido deixando ver o doce, a consistência do melado, a
descrição da criança mimada, primor”.
Já do século 20, Queiroz
estuda o hilário e revelador conto “O peru de natal”, de Mario de Andrade; a
deliciosa deglutição do Bispo Sardinha por nossos índios antropófagos, lembrada
por Oswald de Andrade; a festa do apetite e dos ritos religiosos de Jorge
Amado, entre outros tantos escritores mais frugais, como Érico Veríssimo e Ciro
dos Anjos. Mas foi em Pedro Nava que ela viu um modelo do que seria um escritor
que tratou com maestria a comida.
Para a escritora,
“nenhum outro escritor brasileiro se ocupou, com maiores vagares, de nossos
hábitos culinários. E como a história da sua vida, enxertada em frondosa
genealogia, se arraiga em terras de Minas, mato dentro, derivando, serra
abaixo, na direção do Atlântico até os confins do Ceará e do Maranhão, marcam
encontro, no seu paladar, os gustemas de metade do país. Impossível passar ao
largo de sua mesa. Além de abrir-nos, de leste a oeste, o mapa das cozinhas
regionais, seus livros nos sugerem cardápios, reproduzem receitas seculares,
divulgam tabus e mostram que podemos aspirar sem complexo, a um verbete no Larousse gastronomique. Também sabemos
comer”.
A ensaísta vai
descrevendo as metáforas, os símbolos, as associações e as analogias cujas imagens
de comida e de bebida vão se entretecendo com as descrições que o memorialista
faz da infância, da família, da sua terra. O linguajar mineiro, por exemplo, descrito
por Nava é lembrado pela escritora nos seguintes termos: “os dizeres de Minas
valem ouro. Suas expressões, frases feitas, são como bom-bocados do seu queijo,
como um golão de cachaça escorrendo no queixos, um naco de carne de porco, de
toucinho, de torresmo”.
Para
Queiroz, a obra de Nava comunica em silêncio um mundo de todos os sentidos,
vividos na memória e repostos no instante do presente, são madaleines proustianas que vão do caviar ao suspiro, do queijo à
carne, do vinho ao beijo. De acordo com Luiz Horta, Nava seria o Proust
brasileiro, se Proust não fosse tão frágil e conseguisse descrever uma feijoada
como Nava o fez. Tema, aliás, recorrente também na Música Popular Brasileira.
Cozinhar, desse
modo, para Maria José de Queiroz, é um milagre esperado, no lar e fora dele;
escrever bem de cozinhar é excelência de receituário; escrever bem dos
mistérios do paladar, de suas implicações políticas, científicas, é melhorar o
convívio da espécie humana, tornando inteligível, poético, inesquecível o
difícil pão de cada dia. Esse itinerário gastronômico, à maneira da multiplicidade
presente na obra de Arcimboldo, instiga a leitura da obra dessa grande
escritora brasileira, e, também, estimula a leitura dos grandes livros e dos
grandes autores por ela elencados nesse verdadeiro cardápio literário. Porque,
como afirmou Maria-Antoine Carême, “quando não houver cozinha no mundo, não haverá
literatura, nem inteligência brilhante e rápida, nem inspiração, nem relações
duradouras; não haverá tampouco unidade social”.
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Deus e os cavalos
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
quinta-feira, 9 de julho de 2020
Biblioteca Maria José de Queiroz na Caravana Grupo Editorial
BIBLIOTECA MARIA JOSÉ DE QUEIROZ
A extraordinária Biblioteca Maria José de Queiroz editada pela Caravana Grupo Editorial completa, em 2020, quatro elegantes publicações: a coletânea de ensaios A literatura encarcerada, relançada em 2019 em sua segunda edição revista e atualizada, traz ensaios contundentes sobre a literatura do cárcere nos quais a escritora afirma que os corpos podem estar privados da liberdade, mas o espírito não; o romance Terra incógnita, também lançado em 2019, encanta com um personagem adorável, o menino Damião que, fugindo de aulas enfadonhas e dos maus-tratos do pai, sobe a bordo de um navio no Rio de Janeiro e faz com que o leitor o acompanhe ao sabor de mil e uma peripécias que só quem viaja, no livro e na fantasia, pode entender; a coleção de poemas biográficos Desde longe, republicada em 2020, entretece passado, presente e futuro: na infância, o pai perdido no tempo, no presente, mesas, pratos e casas vazias e no futuro, a escrita do verso lúcido, apaixonado e vibrante; os contos de Amor cruel, amor vingador, reeditados em 2020, exibem uma estranha beleza e insinuam a crueldade e a vingança como ingredientes fatais do relacionamento amoroso.
A extraordinária Biblioteca Maria José de Queiroz editada pela Caravana Grupo Editorial completa, em 2020, quatro elegantes publicações: a coletânea de ensaios A literatura encarcerada, relançada em 2019 em sua segunda edição revista e atualizada, traz ensaios contundentes sobre a literatura do cárcere nos quais a escritora afirma que os corpos podem estar privados da liberdade, mas o espírito não; o romance Terra incógnita, também lançado em 2019, encanta com um personagem adorável, o menino Damião que, fugindo de aulas enfadonhas e dos maus-tratos do pai, sobe a bordo de um navio no Rio de Janeiro e faz com que o leitor o acompanhe ao sabor de mil e uma peripécias que só quem viaja, no livro e na fantasia, pode entender; a coleção de poemas biográficos Desde longe, republicada em 2020, entretece passado, presente e futuro: na infância, o pai perdido no tempo, no presente, mesas, pratos e casas vazias e no futuro, a escrita do verso lúcido, apaixonado e vibrante; os contos de Amor cruel, amor vingador, reeditados em 2020, exibem uma estranha beleza e insinuam a crueldade e a vingança como ingredientes fatais do relacionamento amoroso.
Acesse, para mais informações:
segunda-feira, 8 de junho de 2020
Música e tradição cultural em Sobre os rios que vão, de Maria José de Queiroz , de Filipe Menezes
Der Geiger am Fenster (O violinista na janela) Dou, Gerrit (1613-1675) |
Resumo
No romance Sobre os rios que vão, de Maria José de Queiroz, publicado em 1990, destacam-se os vários termos musicais como cravelha, harpejo, afinação, pianissimo.
O texto que busca várias referências literárias e bíblicas se ocupa da
história de uma família judaica, seus dilemas e embates, num ambiente
cultural repleto dos ditados populares sefarditas, os chamados refranes,
e o maravilhoso mundo da música erudita e das oficinas de luteria. Em
meio aos nomes das famílias de violinos, Amati, Guadagnini e o
preciosíssimo Stradivarius, a família Leite, anteriormente Levi, busca
na tradição cultural e na música o seu lugar no mundo, a compreensão de
seu passado e o desvelo do presente, em meio a brasilidade. Neste artigo
buscou-se observar no texto como a música, a musicalidade e a tradição
cultural representada pelos ditados populares judaico-sefarditas dos refranes compõem a trama que envolve essa família de imigrantes em busca de sua brasilidade, sem deixar de lado sua herança cultural.
Palavras-chave: Maria José de Queiroz; Sefarad; Refranes.
Referências
Palavras-chave: Maria José de Queiroz; Sefarad; Refranes.
Referências
BIBLIA SHEDD. Editor Russell P. Shedd. Trad. João Ferreira
de Almeida. 2 ed. Rev e Atual. São Paulo: Vida Nova, 1997.
CAMÕES, Luís. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1988.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma nova história da música. 2a edição, revista e aumentada. Rio de Janeiro: Ediouro, 1968.
DÍAZ-MAS, Paloma. La literatura oral sefardí: balance del pasado y perspectivas de futuro. Boletín de Literatura Oral, v. extr. n. 1, 2017, p. 79-104.
ESTRUGO, Jose M. Los sefardies. La Habana: Editorial Lex, 1958.
FONTES, Márcio Schiefler. Romances e canções sefarditas dos séculos XV a XX traduzidos do judeu-espanhol. Scientia Traductionis, n. 2, UFSC, Florianópolis, 2006.
HIRSCH, Marianne. The Generation of Postmemory: Writing and Visual Culture After the Holocaust. New York: Columbia University Press, 2012.
QUEIROZ, Maria José de. Sobre os rios que vão. Rio de Janeiro: Atheneu-Cultura, 1990.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa Freire Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
CAMÕES, Luís. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1988.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma nova história da música. 2a edição, revista e aumentada. Rio de Janeiro: Ediouro, 1968.
DÍAZ-MAS, Paloma. La literatura oral sefardí: balance del pasado y perspectivas de futuro. Boletín de Literatura Oral, v. extr. n. 1, 2017, p. 79-104.
ESTRUGO, Jose M. Los sefardies. La Habana: Editorial Lex, 1958.
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HIRSCH, Marianne. The Generation of Postmemory: Writing and Visual Culture After the Holocaust. New York: Columbia University Press, 2012.
QUEIROZ, Maria José de. Sobre os rios que vão. Rio de Janeiro: Atheneu-Cultura, 1990.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa Freire Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
quinta-feira, 14 de maio de 2020
O sabor inigualável da poesia de Maria José de Queiroz, de Lyslei Nascimento
Veronica Veronese, de Dante Gabriel Rossetti, 187 |
Lyslei
Nascimento
UFMG
O primeiro livro de poesia de Maria José de
Queiroz, Exercício de levitação, foi publicado em 1971, em Coimbra. [1] Além de revelar uma busca quase mística pela palavra essencial, essa coleção de
poemas constitui-se como uma profissão de fé da poetisa. A levitação, a
sensação de voar ou flutuar, tem, em vários deles, um pendor metalinguístico,
ou seja, uma tendência do texto de falar sobre sua própria construção. Digna de
nota é a leveza presente em “Receita para fabricar outono” e “Supérfluo”. No
primeiro poema, o verso “verbo de dilatada ressonância” se abre e faz ecoar os
sentidos; já em “um inverno monologal”, ele se fecha e sugere um solilóquio.
Ambos insinuam o paradoxo da palavra e da voz entre a exatidão e a
multiplicidade. No segundo poema, um jogo entre os vocábulos “fluir” e “fruir”
revela a voz que brota, tem um percurso e apresenta, numa potencialidade irredutível,
a poesia, a posse e o prazer.
Em Exercício de gravitação,
publicado em 1972, também em Portugal,[2]
a notação poética gravita sob o signo de Jorge Luis Borges, para quem “um livro
é todos os livros” e o passado, o presente e o futuro “concentram-se no segundo
de insaciável relógio”. Por isso, a leitura imprescindível de “Eterno retorno”,
“Em tempo e ritmo de tango” e “A serviço do verbo”. No primeiro poema, o mito
pode ser vislumbrado no relógio, “metrônomo irritante” a devorar o tempo: “tudo
pesado, contado, distribuído”; no segundo, a música e o tango conferem ao texto
ritmo e desenvoltura; e, no último, a voz lírica confessa a fascinação pela
palavra, encarada como um “milagre cotidiano”, “herança, por páginas semeadas”
e “verso, maduro”.
Entre um exercício e outro, surge, em 1973,
a coletânea Como me contaram: fábulas historiais, publicada em Belo
Horizonte.[3]
Híbrido, multiforme, esse conjunto de poemas, narrativas curtas e a lírica
inscrição de uma lápide se abre com o poema “Minas Gerais, “Estado d’alma”, em
homenagem a Manuel Bandeira, e se fecha com “Minas além do som, Minas Gerais”,
dedicado a Carlos Drummond de Andrade. Desde os títulos, o leitor percebe que
está diante da inscrição de Minas e de dois poetas maiores como os guardiões
dos textos que, entre um e outro, revelam, a partir dos títulos das cidades de
Minas – São João del-Rey, Pitangui –, ou muito além da história, da geografia,
dos documentos e registros oficiais. A poesia, é preciso registrar, não aparece
somente nos poemas, ela está implícita, também, nos textos em prosa e no
epitáfio magnífico e inesquecível para Maria Brites, em “Mariana, 1752”.
Em 1974, a poesia acontece com o título de Exercício
de fiandeira, outra publicação em terras lusitanas.[4]
Sob um ritmo alucinado, “fia, fia, fiandeira, tua roca em monotonia”, a voz
lírica, em “malhas de ponto largo” e “fuso de fio inconsútil”, tece, enovela,
corta e arremata, como no poema “Fiandeira de longo fio”. As mulheres da
Inconfidência, tecelãs de vária história, comparecem duas moiras iluminadas:
Chica da Silva e Marília de Dirceu, ambas a desenredar velhos novelos, corrigir
passados enganosos e desencantar amores. Outras mulheres, outros fios:
Penélope, Dido e Helena, entrelaçadas na biografia, com linhas e rendas
encontram-se nas montanhas de Minas.
Do latim, Maria José de Queiroz explora,
poeticamente, o Resgate do real: amor e morte, publicado em 1978, em
Coimbra.[5]
Ao traçar “itinerários da morte”, nas mais variadas culturas e em múltiplos
significados, de Osíris ao canto do cisne, a poetisa constrói uma série de
poemas na qual o fim da existência é cantado e decantado, no sentido de elogiar
e, também, no de remover os excessos ou impurezas. Nesse sentido, amor,
amoris, amorem, amori, amore são, sobretudo, declinações, formas de se
inscrever no amor, na vida, a fim de resgatar do frio do esquecimento, da
afasia, da solidão e da morte, o poeta, o enamorado.
Em Para que serve um arco-íris?,
escrito no verão de 1974, em Paris, e publicado em 1982, em Belo Horizonte,[6]
a escritora manipula, no sentido alquímico, palavras, sons e imagens. Esses
elementos deixam entrever um apelo aos sentidos do leitor. O arco-íris, metáfora
da poesia, na imagem bíblica da aliança
celeste, com suas faixas coloridas que aparecem na dispersão da luz do sol nas
gotas da chuva, sugere, na pergunta do título, um questionamento essencial
sobre a função da palavra poética.
A memória é, na coletânea
Desde longe, publicada em 2016,[7]
e em segunda edição, em 2020,[8]
fio inconsútil que entretece o
passado, o presente e o futuro. Na infância, os vestígios do pai, perdido no
tempo; as mãos carinhosas da avó, florista em Belo Horizonte; a âncora e o
porto, que era a mãe da escritora; no presente, mesas, pratos, casas vazias; e
no futuro, a escrita do verso lúcido, apaixonado e vibrante.
Os leitores
acostumados à prosa vigorosa da escritora, como em Homem de sete partidas
(1980[9] e 1999[10]); Joaquina, filha do Tiradentes (1987,[11] 1991,[12] 1997,[13] 2017[14]) e Terra incógnita (2019), só para citar
alguns dos seus premiados romances, irão penetrar no reino crepuscular da
construção do estado lírico-biográfico da matéria, que é a poesia.
Se, na
prosa, o estilo, a dicção e a monumental invenção da autora se aproximam de uma
partitura musical; na poesia, muito mais, o verso revela, em sua visibilidade
rítmica, em um concerto de vozes, num processamento de sinais, visíveis e
invisíveis, o sabor inigualável do verbo.
[1]
QUEIROZ, Maria José de. Exercício de levitação. Coimbra: Atlântida, 1971.
[2]
QUEIROZ, Maria José de. Exercício de gravitação. Coimbra: Atlântida,
1972.
[3]
QUEIROZ, Maria José de. Como me contaram: fábulas historiais.
Imprensa/Publicações: 1973.
[4]
QUEIROZ, Maria José de. Exercício de fiandeira. Coimbra: Atlântida,
1974.
[5]
QUEIROZ, Maria José de. Resgate do real: amor e morte. Coimbra:
Atlântida, 1978.
[6]
QUEIROZ, Maria José de. Para que serve um arco-íris? Belo Horizonte:
Imprensa Universitária, 1982.
[7]
QUEIROZ, Maria José de. Desde longe. 1ª. Rio de Janeiro: Gramma, 2016;
[8]
QUEIROZ, Maria José de. Desde longe. 2ª. ed. Belo Horizonte: Caravana
Grupo Editorial, 2020.
[9]
QUEIROZ, Maria José de. Homem de sete partidas. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1980.
[10]
QUEIROZ, Maria José de. Homem de sete partidas. 2ª. ed. Rio de Janeiro:
Record, 1999.
[11]
QUEIROZ, Maria José de. Joaquina, filha do Tiradentes. 1ª. ed. São
Paulo: Marco Zero, 1987.
[12]
QUEIROZ, Maria José de. Joaquina, filha do Tiradentes. 2ª. ed. São
Paulo: Círculo do Livro, 1991.
[13]
QUEIROZ, Maria José de. Joaquina, filha do Tiradentes. 3ª. ed. Rio de
Janeiro: Topbooks, 1999.
[14]
QUEIROZ, Maria José de. Joaquina, filha do Tiradentes. 4ª. ed. [e-book].
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
sexta-feira, 3 de abril de 2020
Nova edição de "Desde longe" de Maria José de Queiroz
A Caravana Grupo Editorial vem publicando livros inéditos e relançando títulos da vasta produção de Maria José de Queiroz, com vistas a divulgar sua obra, bem como preservá-la. Entre elas, está a reunião de poemas Desde longe, cuja apresentação, nessa nova edição, é de Rogério Faria Tavares, Presidente da Academia Mineira de Letras. Para o acadêmico:
"Entregue, desde cedo, ao destino que a vida lhe reservou, Maria José de Queiroz vem servindo, incansável, com excelência e rigor, às causas da Educação e da Literatura. Mais jovem Professor Catedrático do Brasil (conquistou tal posição aos vinte e seis anos), lecionou na Universidade Federal de Minas Gerais e deu aulas nos centros acadêmicos mais importantes do mundo, havendo formado várias gerações.
Como ensaísta, notabilizou-se pela erudição, o raciocínio preciso, o texto claro e agradável, a riqueza vocabular. Seu impressionante fôlego como pesquisadora resultou em trabalhos de grande envergadura, como A literatura encarcerada (em boa hora reeditado pela Caravana Grupo Editorial, em 2019); A literatura e o gozo impuro da comida (1994); Os males da ausência ou A literatura do exílio (1998) e Em nome da pobreza (2006). A memorialista do precioso O livro de minha mãe, de 2014, é, ainda, a romancista, entre outros, de Joaquina, filha do Tiradentes (1992) e Terra incógnita (que a Caravana também lançou em 2019).
Ocupante da cadeira de número quarenta da Academia Mineira de Letras, onde sucedeu a Afonso Pena Junior, Maria José de Queiroz estreou na Poesia com Exercício de levitação (1971), ao qual se seguiram Exercício de gravitação (1972), Exercício de fiandeira (1974), Resgate do real, amor e morte (1978) e Para que serve um arco-íris (1982). Desde longe, publicado pela primeira vez em 2016, volta agora a circular, beneficiado por elegante projeto gráfico.
De forte cunho autobiográfico, reúne versos inspirados na própria trajetória de Maria José, desde a infância, marcada pela morte prematura do pai, até a maturidade, assaltada pela terrível perda da mãe, dona Honória, razões pelas quais a dor e a saudade estão presentes em tantos de seus delicados momentos. O olhar refinado sobre a história, o mundo e as suas diferentes culturas também deixa as suas impressões nas páginas que os leitores começam a folhear agora.
Seduzido pelo universo poético erguido por Maria José, comecei a ler esse livro e não consegui parar, capturado pela sua beleza, sua sofisticação e, sobretudo, por sua sensibilidade. Melhores que essa primeira leitura, no entanto, serão as releituras, como merecem as obras complexas, que não se revelam de imediato em todos os seus segredos. Para elas – que provavelmente me acompanharão vida afora – já me sinto estimulado, desde logo".
#Caravana
#DesdeLonge
#MariaJoséDeQueiroz
Lançamento de: Tecer o visível e entretecer o invisível: as cidades invisíveis em Italo Calvino e Maria José de Queiroz, de Maria Silvia Guimarães Duarte
Ao aproximar os dois escritores – ele italiano, ela brasileira – estrategicamente, a ensaísta puxa o fio comparatista e põe em relevo, as cidades e suas histórias, a memória e suas personagens, no exercício do contar histórias, narrar o visível e o invisível.
Se em Calvino, o enredo gira em torno do imperador Kublai Khan e do mercador Marco Polo, que viaja pelo império dos tártaros e, ao retornar, descreve ao soberano, com lirismo e encantamento, as cidades que visitou; em Queiroz, o delicado mapa que se abre diante do leitor é o de Minas Gerais, com seus íntimos, intrincados e universais emaranhados de fios, que, em prosa e em poesia, deixam vislumbrar a história nossa de cada dia", aponta Lyslei Nascimento, professora da UFMG, sobre o trabalho que, em breve, terá sua pré-venda no site da editora.
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