sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Projetos

Doutorado:

1) História, memória e cotidiano nas narrativas de Maria José de Queiroz - Resumo: Este projeto objetiva estudar as relações entre a História, a Memória e o cotidiano na obra de Maria José de Queiroz, ancoradas nas relações entre historiografia e literatura na construção dos romances contos e novelas, além de procurar as fronteiras que medeiam a História oficial e as histórias ficcionais. Nesse contexto, pretende-se ainda esclarecer de que forma o texto híbrido que daí resulta constitui-se, também, em uma forma de construção do passado e de sua atualização no presente. Doutoranda: Maria Lúcia Barbosa - Orientadora: Profa. Dra. Constância Duarte - Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG - Período: 2014-2018.

Mestrado:

1) As cidades e os mortos: As cidades invisíveis, de Italo Calvino, e Como me contaram: fábulas historiais, de Maria José de Queiroz - Resumo: Este projeto objetiva analisar o caráter duplo do espaço urbano tanto em As cidades invisíveis, de Calvino, quanto em Como me contaram, de Queiroz, tendo em vista a relação entre metrópole e necrópole em ambos os textos. Mestranda: Maria Silvia Duarte Guimarães - Orientadora: Profa. Dra. Lyslei Nascimento - Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG. Período: 2016-2019.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

13 de julho de 1791



QUEIROZ, Maria José de. 13 de julho de 1789. In: ______. Como me contaram: fábulas historiais. Belo Horizonte: Imprensa/Publicações, 1973. p. 79-81.

sábado, 2 de novembro de 2013

É o homem livre que fala do encarcerado

Van Gogh declarava que o pintor não pinta o que vê mas o que sente. Manifestadamente, não se aplicará também a quem escreve o mesmo aforismo? A tomada de consciência a que nos obrigamos, introduzidos no conhecimento de uma realidade sentida, aspira a instruir-nos sobre uma realidade vista. Acautelemo-nos no entanto: não nos esqueçamos do que a prisão significa na sucessão dos episódios vividos pelo prisioneiro. Na projeção do presente sobre o passado (porque geralmente, é o homem livre que fala do encarcerado), cumpre atentar na convergência das suas visões do mundo, presas a dois tempos, que se integram na reflexão histórica em que o autor força o leitor a situar-se na sua história - ida e vivida.


QUEIROZ, Maria José de. A literatura encarcerada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. p. 145. 

domingo, 20 de outubro de 2013

A selva fortalece e consagra amizades

Vinte e três anos de convivência com a floresta, com as cobras, os insetos, as febres, as piranhas e... com a morte. A morte sem disfarce. Quando ataca, ataca sem piedade: de frente. Só o homem, na selva, ataca por trás, de emboscada. Só o homem é hipócrita e mal-intencionado. Dos bichos e das árvores não tenho queixas. Marcaram-me fundo. Mas combatemos combate leal! Hay que temer a los hombres! No entanto quando se tem um amigo... A selva fortalece e consagra as amizades. Ali, sim, é que a fidelidade do amigo se põe à prova. O verniz da civilização não tem razão de ser. Supérfluas nos parecem, e falsas, as fórmulas de polidez, os elogios, os agrados, a solidariedade de fachada. A floresta, testemunha silenciosa, exige atos e não palavras.

QUEIROZ, Maria José de.  Homem de sete partidas. 2. ed.  Rio de Janeiro:  Record,  1999.   p. 86.

sábado, 12 de outubro de 2013

Dorotéia

Noites brancas, sem sossego,
manhã fria de Ouro Preto
Marília, noiva do vento.

O rico vestido bordado,
as liras apaixonadas,
as promessas... o noivo...
Palavras.

Nas ruas, o olhar avesso,
nas rótulas, o vago vozeio,
o riso, a família... Bem feito!

Primeiro a vergonha, o processo,
a dúvida, os versos.
O amor vence tudo,
ainda há esperança...
Dá-se um jeito.
Os dias passando, os meses,
cartas raras, o degredo.
À África? Quem sabe?
Coração maior do que o mundo...
Se amor existe, o mar é pouco...

Dá-se um jeito.
O silêncio.
Silêncio longo de anos,
o casamento, o lar... o dinheiro...
São estes os campos?
Talvez.
Na casa de muitos quartos,
corredores estreitos,
madrugadas prenhes de espantos.
A solidão, fiel conselheira,
desenreda velhos novelos,
corrige passados enganos.
Marília, noiva esquecida,
responde pelo seu nome.
Liras e versos falazes
esquecem-se entre duas fraldas,
no leve embalo do berço
com uma canção de ninar.
São estes os campos?
São estes.
Dorotéia os desencantou.

Belo Horizonte, 1973.


QUEIROZ, Maria José de. Exercício de fiandeira. Coimbra: Coimbra, 1974. p. 35-36.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Paixão inútil

Em vão me distraio
no suor e na pena,
no proveito e no ganho,
no esforço diário
da moenda e do pão.
Reinvento leis e parábolas,
prêmio e castigo,
abono a tristeza legítima
(a única, dizem)
de não ser santo.
Em precipitada fuga
aos minerais negros,
ao sol ávido e à herança de sal,
aspiro à graça mística
do saber de salvação.

Finjo aplicar-me
e... quase me convenço:
mato o  tempo,
mastigo ilusões.
Mas sempre me sobram, sempre,
sonhos rebeldes, insônia,
brancas vigílias de sabores ambíguos,
densos perfumes,
rumores súbitos,
rosas rubras.
O corpo alerta
às numéricas palavras
- datas, meses, anos -
ao que falta, ao que resta,
nefastas lembranças,
frustrações...
Ignoro causas,
desconheço pretextos
e me vejo eleito,
em metáfora de viagem
- acaso, necessidade ou maldição - a concluir vidas
em mim prolongadas
sem remissão.
Faço contas,
demoro-me no cálculo:
dinastias milenares
acumulam-se no esquecimento,
sedimentadas de amor e ódio,
desespero e arrogância.
Pesa-me o fardo
de tão longo itinerário
à margem de ataúdes e vultos
que tangem lentas lembranças.
O destino, claro, importa pouco:
nascimento e morte,
começo e fim igualmente se consomem
no cego fulgor da febre e na ciência do pranto.
Pois a mim, afinal, de que me valem
as profecias delirantes,
a família, a honra, o nome,
as dinastias milenares
e sua carga de olvido e de sangue,
se, no assombro de ser,
inutilmente,
lavro o tempo estéril
e semeio meu  legado de cinza e solidões?

Belo Horizonte, abril, 1975.

QUEIROZ, Maria José de. Para que serve um arco-íris? Belo Horizonte: Imprensa, 1982.
p. 81-82. 


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Quanto maior o sofrimento, maior a glória


Grandes igrejas, velas, candelabros, ornamentação luxuosa, missas caras, eis o que se exige dos indígenas para agradar a taita Dios e fazê-lo esquecer as injúrias. Recompensa? O paraíso. Quanto maiores os sofrimentos, maior a glória celeste. Los bienes espirituales son permanentes. Los sufrimientos y la fe, la fe en la Providencia, abren el camino de la felicidad eterna en el seno del Señor... Aconselha-se resignación y espíritu cristiano. Se não receberem recompensa neste mundo, melhor... A doutrina cristã acena-lhes com a felicidade no outro.


QUEIROZ, Maria José de. Do indianismo ao indigenismo nas letras hispano-americanas. Belo Horizonte: Imprensa da Universidade de Minas Gerais, 1962. p. 143.