sábado, 11 de junho de 2011
Amore
Minhas mãos anoiteceram
na negra prisão dos teus cabelos.
No teu olhar sombrio
repousei alacridades claras
da luz fatigante do dia.
Fez-se noite,
Noite escura, densa,
de noturno apassionato,
con brio.
Rendida ao seu sortilégio,
entre sombra e penumbra,
abriguei pudores,
disfarcei deliquios.
Nos teus ombros firmes
busquei asas,
precipitei-me contigo.
À margem dos teus nervos
ouvi derivarem rios.
Nos teus músculos tensos
peixes e cardumes
fugiam ao meu abraço
e na fugida me levavam,
rápidos, umentes, frios.
No coleio das águas envolvida,
ficava e repartia.
Ao apelo da ribeira,
ora dilatava,
ora corria.
De surpresa em surpresa empolgada
diante de mim tuas constelações se abriram:
recitei tuas estrelas,
de caricioso pastoreio,
enquanto nos teus olhos esplendia
céu de azul profundo - maravilha!
noturno apassionato, con brio.
QUEIROZ, Maria José de. Resgate do real: amor e morte. Coimbra: Coimbra, 1978. p. 35.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário: