Salvo melhor juízo, difícil será apontar um autor contemporâneo, de prosa requintada, se bem que popular, que melhor se alinhe neste acervo da pobreza que João Antônio, o autor do clássico Malagueta, perus e bacanaço. Não podemos aproximar-nos do cotidiano de ternura, aspereza e sofrimento das suas personagens sem um descortino da literatura proletária - escrita por operários, e da literatura popular - de autores cultos. Porque tudo está aí, nesse clássico. Todos os percalços e todas as conquistas do gênero, que se mimetiza com o meio, que sorve e absorve o ambiente para transmiti-lo no sentimento, nas emoções, nos gestos e o boleio das frases num tom tão afinado que torna o autor parente, senão pai, do mendigo, da prostituta, do jogador de sinuca, do malandro, do ladrão, do meninão do caixote.
QUEIROZ, Maria José de. Em nome da pobreza. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006. p. 191.
Estava lendo as cartas de João Antônio a Fernando Paixão e me deparei com o nome de Maria José de Queiroz, ligado a um belo elogio. Ao buscar mais informações sobre ela, cheguei a este blog e tive a surpresa de encontrar justo esse post...
ResponderExcluirRedescobrir esse escritor que tanto me influenciou na adolescência e conhecer o trabalho dela ao mesmo tempo é realmente muito provocante.
Conheci João Antônio, pessoalmente, pelas mãos de Maria José de Queiroz, no Rio de Janeiro. Numa tarde, na editora... conversamos sobre o Realismo e o realismo na literatura. Um exercício de inteligência. Um homem raro. Lyslei.
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