o mundo,
carta de enigmas,
abre aos teus olhos
extenso rol de signos.
No espelho das águas,
Narciso e o mito;
no profundo mar, submerso,
o sonho imperecível de Ícaro;
na penha tenebrosa,
Prometeu acorrentado
à eternidade do delito.
O rosto e a imagem
- perfil ambíguo,
ele e eu, eu e ele, confundidos;
a fuga ao chão,
na vertigem das asas livres,
a envergadura em equilíbrio;
o raio aprisionado
na frágil argila
- risco tosco,
forma indecisa...
assim começa,
e recomeça,
nosso itinerário de equívocos.
A libélula ao redor da luz,
o sapo e a víbora,
a árvore da ciência,
o canto do pássaro
que cabe, eterno,
no pulsar do sangue,
entre dois versículos da Bíblia,
as cores todas do céu,
o disco de Newton
- do amarelo ao rubro,
dentro do branco de Leonardo,
inicial e receptivo...
Tudo é enigma.
A esfinge hierática,
quimera voraz,
vela à porfia:
mistério denso
nos chama
do fundo as suas pupilas.
Seu sexo, inviolado,
negros perfumes transpira.
Ah, tentação de possuí-la!
Belo Horizonte, outubro, 1978.
QUEIROZ, Maria José de. Para que serve um arco-íris? Belo Horizonte: Imprensa, 1982. p. 13-14.
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