sexta-feira, 14 de abril de 2017

Homenagem a Maria José de Queiroz na Academia Mineira de Letras, 18 de abril de 2017

A Academia Mineira de Letras realiza na terça-feira, dia 18, às 19h30, sessão em homenagem à acadêmica Maria José de Queiroz, ocupante da cadeira de numero quarenta. Vivendo atualmente em Paris, como professora da Sorbonne, ela virá a Belo Horizonte especialmente para a solenidade. O evento faz parte do programa Universidade Livre, realizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Instituto Unimed-BH, por meio do incentivo fiscal de mais 4,5 mil médicos cooperados e colaboradores. A AML integra o Circuito Liberdade.


Maria José de Queiroz nasceu em Belo Horizonte, em 1934. É doutora em Letras Neolatinas pela Universidade Federal de Minas Gerais e autora das obras “Joaquina, filha de Tiradentes” (recentemente adaptada para a televisão), “Como me contaram”, “Ano novo, vida nova”, “Homem de sete partidas”, entre outros romances e obras poéticas.


Aos 26 anos, se tornou a mais jovem catedrática do país e, por concurso, substituiu o professor Eduardo Frieiro na UFMG. Em 1953, começou a colaborar em jornais em Minas Gerais e hoje escreve para importantes periódicos, inclusive o francês Le Monde. Possui uma longa carreira como professora convidada em importantes universidades americanas e europeias: Indiana, Harvard, Berkeley, Sorbonne, Lille, Bordeaux, Ainx-en-Provence, Bonn, e Colônia. No evento, Maria José de Queiroz será saudada pela presidente da Academia Mineira de Letras, a acadêmica Elizabeth Rennó, pelo secretário de Estado da Cultura, acadêmico Ângelo Oswaldo de Araujo Santos, e apresentada por uma das mais importantes estudiosas de sua obra, a professora Lyslei Nascimento.


Lyslei Nascimento é professora de literatura na Faculdade de Letras da UFMG. É mestre em Literatura Brasileira, doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-doutora pela Universidade de Buenos Aires e pela Universidade de São Paulo. Atualmente é subcoordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários e Coordenadora do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG. Pesquisadora do CNPq e da Fapemig, publicou, entre outros títulos, Borges e outros rabinos, 2009, pela Editora da UFMG.


Em dissertação apresentada ao curso de Pós-graduação em Letras e intitulada “Exercício de fiandeira: Joaquina, filha de Tiradentes, de Maria José de Queiroz”, Lyslei  faz uma análise do mencionado romance de Maria José, que abrange os fatos históricos do século XVIII e a construção da vida ficcional da filha do herói da Inconfidência.


Ainda na sessão, será exibido trecho de documentário sobre Maria José de Queiroz.





SERVIÇO:

Sessão em homenagem à acadêmica Maria José de Queiroz

Data: 18 de abril

Horário: 19h30.

Local: Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1466 – Lourdes – BH/MG).

Entrada gratuita.

academiamineiradeletras.org.br

domingo, 19 de março de 2017

Humor do sofrimento

Prometeu (1610-1611), Peter Paul Rubens

Num ensaio recente, "Dostoievski, a escrita do sofrimento e do perdão", Julia Kristeva aprofunda o tema freudiano da impulsão à morte" e do "masoquismo primário", ausentes dos estudos de Freud sobre o autor de O Idiota. Em vez de transformar-se em impulsões eróticas, a "impulsão à morte" se resolve em Dostoievski, segundo Kristeva, num "humor do sofrimento". À borda da ruptura entre o Eu e o "outro", antes mesmo que a ruptura se verifique, manifesta-se o "sofrimento dostoievskiano". E a verdadeira volúpia que experimenta nada tem a ver, aos olhos da ensaísta, com a melancolia e a impulsão do abismo que ressuma das páginas de Gérard de Nerval. 

Convenha-se: a exaltação desse sentimento, apontado apenas nos grandes místicos - para os quais a dor é meio eficaz para alcançar a "via unitiva"- leva à jubilação gozosa.

QUEIROZ, Maria José de. A literatura alucinada: do êxtase das drogas à vertigem da loucura. Rio de Janeiro: Atheneu Cultura, 1990. p. 87.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Os 31 livros de Maria José de Queiroz


Fotografia dos 31 livros de Maria José de Queiroz, na palestra na Faculdade de Letras da UFMG.
O Brasil não conhece o Brasil.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Limites

Euclides, vivo, incomodava a todos. Tivera êxito nos negócios, gozava de excelente fama entre as mulheres... que mais queria? É isso que importa! Nadie o entendia. Ele inquietava e escandalizava. Suas ambições escapavam ao homem comum. À força de agitar-se, de agir, de angustiar-se, foi longe demais: alcançou o proibido. Sempre me repetia que o seu maior desejo era conhecer seus própios límites: queria saber até onde iria. Em tudo. Falta sempre alguma coisa ao homem que jamais experimentou essa vertigem, confessou-me certa vez. Nesse dia, ele chegara a um dos seus abismos: o da fúria homicida. Um dos seus empregados abusara de uma indiazinha. Euclides foi procurá-lo: ele tinha de reparar o crime. O empregado, cínico, replicou que apenas se antecipara ao pai, aos irmãos ou à indiada suja que, em obediência ao hábito, se encarregariam de fazê-la mulher. Ela, índia, devia-lhe um privilégio: ele, branco, dera-lhe a provar o gosto do sexto de uma raça superior. Euclides, fora de si, atirou-o ao chão. Ao vê-lo por terra, seu primeiro ímpeto foi matá-lo, à frio. Quase sucumbiu à tentação. Era o seu límite. Vencida a vertigem, pôs o revólver na cintura. A mão direita em garra, presa ao pescoço do homem, levantou-o para aplicar-lhe punição mais eficaz: com um pontapé vigoroso, privou-o, vitaliciamente, de iniciar nos mistérios do sexo índias e brancas, sem discriminação de raça.

QUEIROZ, Maria José de. Homem de sete partidas. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1999. p. 220.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O canto do cisne



Não, o cisne não canta
ao aviso da morte.
Nenhuma voz anima
o seu último silêncio
na solidão das águas.
No bico secreto,
com timbre preciso,
o peixe ágil,
o lodo, o verme.
No momento inacessível
em que os juncos adormecem,
o seu pescoço se alonga
à procura de outra forma.
É o cisne o seu próprio canto
no risco definitivo
do corpo sem metáfora.

QUEIROZ, Maria José de. Resgate do real: amor e morte. Coimbra: Coimbra Editora, 1978. p. 68.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Yehudá Abrabanel

Yehudá Abrabanel (nome que o próprio escritor trocaria por León Hebreo - leão, atributo da tribo de Judá; hebreo, pela sua religião) nasceu em Lisboa, entre 1460-65. Era filho do célebre Isaac Abrabanel, uma das maiores figuras do judaísmo. Foi com o pai que se iniciou na filosofia e na teologia. Foi médico de profissão e como a astrologia se confundia com os estudos de medicina, sua obra está marcada pelos estudos dos astros e sua influência na vida dos homens.

QUEIROZ, Maria José de. A América: a nossa e as outras. Rio de Janeiro: Agir, 1992. p. 106.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Qual flor sem haste

Vicente Huidobro
Dessarte, a literatura hispano-americana, qual flor sem haste, enfeita as jarras brasileiras, alimenta conversas de sobremesa, de curta duração. Ninguém se interessará em descobrir, no passado, as razões do prestígio, entre nós, de um Rubén Darío, de um Rodó ou de um Amado Nervo. Terminada a atual coqueluche, ninguém perguntará, à maneira de Unamuno, "Y antes?", nem tentará averiguar se depois de Gabriela Mistral, Miguel Ángel Asturias, Pablo Neruda, Gabriel García Márquez e Octavio Paz seremos ainda dignos de outro Nobel de Literatura. Continuaremos todos a ignorar que o teatro moderno nasce com La verdad sospechosa, de Juan Ruiz de Alarcón, que José-María de Heredia era cubano; Laforgue, Lautréamont e Supervielle, uruguaios; William E. Hudson, argentino; e que os caligramas do chileno Huidobro são anteriores aos de Apollinaire. Enquanto isso, César Vallejo mastigará grama e silêncio em Montparnasse e Enrique Banchs continuará desconhecido. Nesta América infeliz e miserável, à qual, por isso mesmo, a Academia sueca distinguiu com os seus prêmios Asturias e Neruda, talvez se leiam, algum tempo ainda, El Señor Presidente e o Canto general. Depois, tudo será naufrágio... Como está no verso do grande poeta chileno.

QUEIROZ, Maria José de. A América sem nome. Rio de Janeiro: Agir, 1997. p. 141.