A crueldade expulsou a violência e, com ela, a gana de peleja, de luta e de vitória. Os Borges aguerridos, os Quirogas, os Fierros, os caçadores de esmeraldas e a jagunçada do sertão, os Cabeleiras, os Lampiões, os Riobaldos e os Mirongas, os bad bad men e, também, os bad good men, os Jerônimos e os últimos moicanos recolheram-se às páginas do folclore, do romance histórico, da literatura de cordel ou aos clássicos do western. Antes de chegar à América, a violência já percorrera, cabo a rabo, as epopeias gregas, os cantares de gesta e a Bíblia, ocupara os historiadores e os teólogos. Animara, entre nós, debates e discussões, preocupara a Igreja e a Coroa espanholas, lograra interromper o curso da Conquista. A literatura, as artes plásticas e o cinema reelaborariam, incenssantemente, toda a sua feroz intensidade trágica. (...) a literatura da crueldade exibe, sem pudor, a exceção monstruosa, o crime, o desregramento do sexo, o alcoolismo, as drogas, a prostituição e os vícios inconfessáveis. (...) Já não se escrevem romances, produzem-se thrillers. (...) Abre-se, generosamente, para pesquisadores e aficionados, a enciclopédia analítica da gênese e multiplicação das perversões".
QUEIROZ, Maria José de. Tempo e violência. In: Refrações no tempo: tempo histórico, tempo literário. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 58-59.
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