Privam-no do direito de levantar o dedo na sala de aula, sob o pretexto de que a exibição de saber inibia os alunos mais tímidos. Por trás do preceito didático (democraticamente nivelador e de evidente exaltação da mediocridade) escondia-se, sorrateira, a garra do anti-semitismo nascente. Sefaradita, de cidadania búlgara, meio turca e meio espanhola, a família Canetti jamais provara qualquer discriminação na Bulgária, país natal do jovem Elias, nem na Inglaterra, para onde se expatriara em 1911. As palavras secas do professor - "Você levanta o dedo demais!" - paralisaram-lhe o braço. "Também perdi a alegria - confessa - e a escola já não me dava prazer. Em vez de esperar pelas perguntas durante as aulas, eu agora esperava pela próxima chacota durante o recreio. Toda observação de desprezo pelos judeus provocava em mim idéias contrárias. Eu tinha vontade de retrucar tudo aquilo, mas para isso não havia oportunidade, pois não se tratava de uma discussão política, mas sim, como eu diria hoje, da formação de uma matilha".
QUEIROZ, Maria José de. Elias Canetti: entre a palavra e a letra. In: Refrações no tempo: tempo histórico, tempo literário. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 119-120.
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