Perdemos nós, os brasileiros, no repúdio ao antepassado, a noção do parentesco. Renunciamos à Hispânia, berço comum peninsular, e confundimos, na renúncia, toda a descendência continental que moureja e padece ao nosso lado. Citam-se com dificuldade um Oliveira Lima, um Manuel Bonfim ou um Sílvio Romero a interessar-se pelo mundo hispano-americano. Atualmente lembraríamos Manuel Bandeira, Sílvio Júlio, Ivan Lins, Eduardo Frieiro, Henriqueta Lisboa. Também ela, a América espanhola, nos retribui da mesma moeda. Não nos aventuramos além de Machado de Assis e Jorge Amado. Desdém? Por certo, não. Indiferença nascida da ignorância. Ignoram-se entre si os povos de fala castelhana. Argentinos e uruguaios leem com mais facilidade os bons autores franceses e ingleses do que os escritores peruanos, mexicanos, chilenos ou bolivianos, e reciprocamente.
QUEIROZ, Maria José de. Convite à literatura hispano-americana. In: ______. Presença da literatura hispano-americana. Belo Horizonte: Imprensa/Publicações, 1971. p. 11-12.
Presença da literatura hispano-americana (1971) reúne ensaios que tratam dos laços de parentesco entre os países americanos de língua espanhola e o Brasil. Maria José de Queiroz demonstra que, apesar da origem comum, os povos sul-americanos ignoram-se mutuamente, criando dessa forma um abismo cultural quase intransponível.
ResponderExcluirASSIS, Luciara. Maria José de Queiroz. In: DUARTE, Constância Lima (org.). Mulheres em Letras: antologia de escritora mineiras. Florianópolis: Editora Mulheres, 2008.