segunda-feira, 27 de julho de 2009

À mesa com Machado de Assis

Machado instruiu-se convenientemente sobre as excelências da mesa. Começa por empregar, em português, a expressão boa chira, para bonne chère: o Palha, do Quincas Borba, "era dado à boa-chira", Custódio, do conto "O empréstimo", tinha o instinto das elegâncias, o amor do supérfluo, da boa-chira (...)". Cita os templos da gastronomia parisiense, o Véry e o Véfour, lembra a cozinha dos palácios do Conde Molé e do Duque de la Rochefoucauld. Condena "a corrupção dos tempos" que trouxe ao Rio o hábito do sanduíche e do bife cru. Cioso dos nossos costumes e origens, advoga a causa da doçaria nacional e, particularmente, a arte do arroz-doce. Numa visível intimidade com os fastos gastronômicos, anuncia numa crônica de 1878: "Hoje é dia de festa cá em casa: recebo Lúculo à minha mesa". Compõe, para essa festa, cardápio especial: "Línguas de rouxinol", "Coxinhas de rola", "Peito de perdiz à milanesa", "Faisão assado", "Pastelinhos", "Compota de marmelos", "Brinde final". Seguem-se, ao título dos pratos, comentários e observações sobre eventos e notícias da atualidade.


QUEIROZ, Maria José de. A literatura e o gozo impuro da comida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994. p. 222-223.

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