Não há interpretação, leitura ou tradução para a vertigem alucinante. Aquele que a experimenta não faz senão integrá-la, assimilando-a aos mecanismos de conduta. Encontra-se, na própria experiência, o "significado soberano" (para retornar a expressão de Lacan acerca do estado poético). O sujeito aparece, portanto, como aquele que sente - o paciente, veículo ou instrumento da força superior, à qual tampouco compete definir ou explicar, porque transporta em si mesma toda a sua essência, e a viver a "diferença", inscreve-se numa ordem inédita, infensa às articulações do significante e do significado: a ordem da paixão (no sentido primitivo do termo - passio, passionis).
QUEIROZ, Maria José de. A inutilidade da retórica, a deleitação gozosa. In: ______. A literatura alucinada: do êxtase das drogas à vertigem da loucura. Rio de Janeiro: Atheneu Cultura, 1990. p. 35-36.
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