Nunca faltaram aos pobres a força dos Evangelhos nem a eficácia metafórica do Apocalipse. As oligarquias opulentas tinham sempre pela frente o sacerdote virtuoso, o monge descalço, o ermitão inflamado para lembrar-lhes as bem-aventuranças, o juízo final, o fogo do inferno. Foi esse o levedo que fermentou a massa, o caldo em que se curtiu a mágoa dos humildes mas que também cozinhou, em muitas ocasiões, a explosão homicida da revolta. (...) Ao longo dos anos, pobre (substantivo ou adjetivo) adquire acepções contrárias de potens (potente, poderoso), miles (soldado), civis (cidadão). É sinônimo de debilis (débil, fraco, enfermo, deficiente físico) e de humilis - humilis homo - homem vil; humili loco natus - de baixa condição.
QUEIROZ, Maria José de. Quem tem medo dos pobres? In: ______. Em nome da pobreza. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006. p. 63.
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